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Remendar, reviver, ressignificar...

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Sempre gostei de costura. Tenho máquina de costurar, e desde menina me aventuro nesta estrada. Sempre sonhei fazer o curso de Corte e Costura. Ainda não concretizei este feito, mas o mantenho vivo no meu Banco de Projetos.

Muitas pessoas me pedem coisas ligadas a costura, e esta coluna surgiu ao responder a pergunta de um amigo se poderia costurar a gola da sua camisa de estimação destruída pelo tempo de uso.

Ao me deparar com a peça, percebi que o trabalho estava mais ligado ao remendar do que ao costurar, ou seja, ao que via minha mãe, tias, amigas, e comadres fazerem quando era criança.

Com este pedido, constatei que o velho ofício de remendar é próprio para este novo tempo de isolamento social em que estamos arrumando os armários, ressignificando o mundo vivido com as coisas ali guardadas, e revivendo emoções com estas peças preciosas plenas de sentido.

Para mim o fato de remendar sempre foi uma arte. Agora, neste distanciamento social, uma arte de rememorar com graça este tempos que estamos aprendendo a frear o ato de consumir e descartar, compulsivamente, uma atitude contrária a vida no planeta.

Quando trabalhava na camisa do meu amigo percebi que remendar não se trata só da bela e esquecida tarefa de ressuscitar uma peça, da arte de reaproximar partes de uma roupa que se rasgou, se descosturou, ou se desconstruiu. Dentro deste aparente, simples e antigo ato caseiro pensei nas coisas poéticas que perduram, no sentido dos objetos, no nosso vínculo com o cotidiano e no desgastado como belo e necessário.

Neste devaneio pela arte têxtil de remendar, de aprender a re/usar vestimentas com tecidos rasgados, fiz uma analogia com as demandas que diariamente a existência nos impõe, as necessidades, e desafios enfrentados da nossa vida que passamos remendando sentimentos, cuidando para não rasgar relações, e prevenindo problemas que desgastam a caminhada.
Na via da resplandecente arte de remendar nosso vínculo esquecido com o amor pelo cotidiano, lembrei de Bernard Weiner e seu estudo de Atribuição de Causalidade ao sucesso, fracasso e reação emocional baseado em: internalidade x externalidade, estabilidade x instabilidade, e controlabilidade x incontrolabilidade. Vi que isto aplicado ao ato de remendar cria roupas ressignificadas, plenas de sentido, e como o sujeito escolhe a causa da atribuição feita para explicar o valor da antiga indumentária que marca sua vida, e seu relacionamento intra e interpessoal.

Naquele dia, o remendar a camisa ultrapassou o ato de cooperar para reviver uma coisa concreta, visitou o abstrato da lembrança, da dádiva de revivescer coisas bacanas vividas com aquela peça.

Caro leitor, vistes as mulheres de sua família remendar, reformar, transformar e ressignificar as roupas de seu armário?


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